sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Experiência é Tudo na Vida, até na Arte da Pesca

A arte de pescar: um caniço, um anzol e diversas histórias no Litoral Norte Ricardo Duarte/Agencia RBS
A aposentada Doraci Franke, 71 anos, marca presença todos os dias na ponte entre Tramandaí e ImbéFoto: Ricardo Duarte / Agencia RBS
Se há uma cena característica da ponte entre Tramandaí e Imbé é aquela fileira de varinhas de pescar disputando espaço para fisgar sardinhas no Rio Tramandaí. Quem passa pela beira da praia de manhã cedo ou à tardinha sempre encontra aquele "tio" com anzol apontando para o mar em busca de um ou outro papa-terra, para servir uma fritada à família na volta para casa. Zero Hora foi atrás de algumas histórias desses pescadores de veraneio.
Na ponte sobre o Rio Tramandaí, a dama da pescaria é a aposentada Doraci Franke, 71 anos. Não só por marcar presença todos os dias no local, mas porque ela pega tanta sardinha que até vende parte da pescaria para quem não fisga nada.
– É só ela que pega peixe aqui – aponta um pescador.
– Aquela ali é muito sortuda – diz outro.
– Não dá para pescar perto dela porque a gente passa vergonha – admite um terceiro.
Mas, afinal, qual o segredo de Doraci?
– Tem que ter um anzol bom e segurar a vara reta, cuidar para não inclinar nem enroscar com as outras linhas. A isca também não pode ser muito grande, se não o peixe escapa – explica.

Quem está ao lado, de ouvido comprido na conversa, garante que não é só questão de equipamento – é preciso sorte. 

E parece que isso Doraci tem bastante. Enquanto fala com a reportagem, ela vai tirando uma sardinha atrás da outra do anzol, enquanto os demais pescadores ao redor continuam com os baldes vazios.
Moradora de Sapiranga, no Vale do Sinos, Doraci começou a pescar há 10 anos. Foi acompanhar o irmão na ponte e gostou da brincadeira. Tanto que passou a alugar uma casa a uma quadra do local.
Ela passa boa parte do veraneio sem molhar os pés no mar e só vai à beira da praia quando chegam os três filhos e os dois netos para passar as férias.
– Isto (pesca) é meu passatempo, adoro pescar. Vir aqui é bom também porque faço amizades, converso todos os dias com gente diferente. Nunca encontrei uma pessoa má na ponte, só vem gente boa – conta a aposentada.

Com o baldinho cheio, ela volta para casa no fim da tarde já pensando na fritada de sardinhas com farinha de trigo, sal e orégano que vai preparar para a janta.
Com uma só isca, aposentada garante ter pego dois peixes
Doraci diz que já pegou dois peixes com um anzol. Causo mais curioso que este foi o de um casal, que tentava pescar ao lado dela na ponte. Ficaram horas com a vara na água. E nada. Doraci, como sempre, enchia os baldinhos. Quase desistindo, o rapaz resolveu perguntar a Doraci se ela poderia lhe vender o anzol que estava usando, quando fosse embora. Doraci disse que daria o anzol ao rapaz. Antes, só ia dar mais uma fisgadinha.
– Não é que, quando joguei pela última vez a linha na água, a vara quebrou no meio? Parece até que não era para ser dele aquele anzol! – conta a pescadora.
No fim, o rapaz acabou comprando de Doraci dois quilos de sardinha, metade do que ela tinha pescado naquela tarde.

Hoje não deu em nada, mas ontem...

Há quem aproveite as férias para desligar o despertador e acordar quando o corpo achar que chega de dormir. O técnico em mecânica de Sapucaia do Sul Ricardo Kunz, 48 anos, no entanto, prefere fazer o oposto: adianta o alarme para as 5h da manhã.
Kunz conta com a parceria do industriário Mauro Bremm, 49 anos, também de Sapucaia, que costuma levar o filho, Rafael, 17 anos, para a pescaria. Sempre por volta das 6h, o trio vai até a beira da praia de Capão da Canoa, com kit de pesca, cadeiras de praia e chimarrão para acompanhar.
A turma aprendeu os macetes conversando e observando os mais experientes.
– Os mais velhos têm olho clínico. Só pelo balanço das ondas já identificam onde estão os buracos. É lá que ficam os papa-terras – comenta Kunz.
No grupo dos mais experientes está o bancário aposentado Júlio César Alves, 65 anos. Morador de Porto Alegre, mas natural de Santana do Livramento, ele aprendeu a pescar quando criança, nos rios da fronteira com o Uruguai e no país vizinho. Com a experiência de água doce, ele diz que pescar na água salgada é mais difícil, porque demora para entender quando a vara é balançada pelo movimento das ondas ou pela fisgada do peixe.
– A vara dá uma tremida diferente quando o peixe fisga, só a experiência para saber identificar – ensina.
Para pescar o papa-terra, eles retiram a isca do próprio mar: tatuíras e mariscos arrastados pela maré.
– O peixe maior é sempre o que escapou – conta Alves.

Ele diz isso porque toda história de pescador começa com uma grande aventura para fisgar um peixão, mas no último instante, o bicho escapa. E aí fica pelo conto, ninguém tem como provar se era mentira ou verdade.

– O cara sempre diz para quem passa: "hoje não está dando nada, mas ontem…". Aí tu vens no dia seguinte, e ele diz a mesma coisa! – diverte-se Kunz.

Aviso aos pescadores

- É permitido aos veranistas pescar somente com caniço, carretilha ou molinete.
- O uso de tarrafas e redes é proibido, podendo ser usado apenas por profissionais e em determinadas épocas do ano.
- O pescador flagrado usando redes e tarrafas irregularmente tem o material recolhido e é submetido a um termo circunstanciado.
- A Brigada Militar orienta os pescadores de ocasião que se cadastrem no Ministério da Pesca para tirar uma licença.

Fonte: Coronel Angelo Antônio Vieira da Silva, comandante do Comando Ambiental da BM
Retirado do: zerohora.clicrbs.com.br/

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