quinta-feira, 10 de julho de 2014

Cadê a Chuva ?

Barcos que levavam turistas para pesca esportiva estão parados  (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)Barcos que levavam turistas para pesca esportiva estão parados (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)
As condições climáticas atípicas desde o início do ano no Estado de São Paulo, que estão provocando períodos prolongados de seca, ameaçam a atividade de famílias que dependem da pesca em Colômbia (SP). O Rio Grande, de onde elas tiram o sustento, está com o nível da água oito metros abaixo do normal e os peixes sumiram. Segundo pescadores, donos de pousadas e guias turísticos, a situação é uma das piores que já enfrentaram, com efeitos ainda mais devastadores que em 2001, quando o país passou por um apagão em decorrência da falta de chuvas.
O ferramenteiro Celso Rodrigues Gomes Filho, de Nova Odessa (SP), vai a Colômbia há 38 anos para praticar pesca esportiva. Ele afirma que nunca presenciou um cenário como o deste ano e que a pesca predatória contribui para aumentar o problema. “Venho para passar a hora. Pescaria é isso, descansar a cabeça. Se pegar está bom. Se não pegar, está bom também. Mas tem gente que não pensa assim. Quer levar o rio para casa. Com isso, a água vai baixando cada dia mais”.
Santos trabalha na pousada de Anderson Tsuchida, que tem 37 apartamentos, quase sempre fechados. No restaurante, a frequência caiu 50%. O dono do lugar conta que, quando ainda aparecem turistas, a estratégia é levá-los 15 quilômetros rio acima, para que eles pesquem em pontos de maior profundidade. “A gente está tendo que fazer um transfer com essas pessoas, para ir até outra represa, numa parte alagada, porém, não é uma pesca tão produtiva como se fosse aqui embaixo com o rio cheio. É muito triste isso. Não tem água no rio, não tem peixe, não tem movimento, a cidade para. Complicado, porque a cidade vive principalmente do turismo”.Cerca de 250 famílias da cidade dependem das atividades ligadas à pesca para sobrevivência. Com a seca e a pesca predatória, alguns estão buscando outros empregos. É o caso do guia turístico Adriano Júnior dos Santos. Os barcos que ele costuma usar nos passeios estão parados. É possível observar até teias de aranha crescendo no meio deles. “Fica tudo parado. A gente fica sem serviço devido ao rio estar muito baixo. E os turistas reclamam. A gente leva nos pontos de pesca e eles não pegam nada. Acham que a gente não está levando nos lugares certos. Com isso, a gente tem que começar a correr atrás de outros serviços”.
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Pousada tem 37 apartamentos, quase sempre fechados  (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)Pousada tem 37 apartamentos, quase sempre
fechados (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)
Reprodução prejudicada
No trecho do Rio Grande que passa por Colômbia, vivem 40 espécies de peixes, segundo a bióloga Maria Inácia Macedo Freitas. Quinze estão ameaçadas de extinção. Ela explica que, há três anos, o rio não volta ao nível normal. Em alguns pontos, a profundidade não passa de um metro. Pedras que deveriam estar encobertas pela água servem de pouso para bandos de aves que disputam o pouco alimento.
A bióloga explica que as matrizes reprodutivas de peixes ficam no Rio Grande até os meses de agosto e setembro, quando sobem o Rio Pardo e chegam ao Mogi, onde desovam. “Com o nível da água tão baixo e a pesca predatória, em que o pessoal bate tarrafa, arma redes ao longo do rio, nós não vamos ter essas espécies para subir o rio. Isso vai afetar totalmente a cadeia reprodutiva”.
Maria Inácia diz que o problema prejudica uma iniciativa que seria implantada na cidade. “Estamos tentando trazer para cá modelos já implantados em Mato Grosso, Goiás, de fazer a pesca sustentável, o ecoturismo. Mas o turista que busca uma pesca consciente sumiu daqui, por causa da falta de peixes”.
O rancheiro Paulo César de Oliveira, que vive do aluguel de barcos, expõe o produto nos cem metros de margem que antes estavam submersos. Mas a procura pelo serviço, segundo ele, é “quase zero”. “Está difícil navegar pelo rio. Por causa do nível baixo, os barcos não têm condições de passar pelas pedras”. Sem saber o que fazer, ele diz, apenas, estranhar a situação. “A gente havia se acostumado com isso em outubro, novembro, quando a estiagem está terminando. Nessa época, não”.
Pedras que deveriam estar encobertas servem de pouso para aves (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)Pedras que deveriam estar encobertas servem de pouso para aves (Foto: Maurício Glauco/ EPTV)
Fonte: g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca

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