terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Alguém lembra da Cachoeira de Caramelo?

Nascente do rio São Domingos brota água límpida e cristalina (Foto: Reprodução / TV Tem)Nascente do rio São Domingos brota água límpida e cristalina (Foto: Reprodução / TV Tem)
Depois do melaço de cana-de-açúcar atingir o rio São Domingos, no noroeste paulista, após um incêndio em um porto seco de Santa Adélia (SP), o Tem Notícias percorreu o rio em várias cidades para verificar a situação atual. Os repórteres encontraram muita sujeira e desrespeito por um dos rios mais importantes da região.
São quase 100 quilômetros de extensão. O rio São Domingos corta seis cidades do noroeste paulista: Santa Adélia, Pindorama (SP), Catanduva (SP), Catiguá (SP), Tabapuã (SP) e Uchoa (SP). A nascente fica em uma fazenda em Santa Adélia, onde o acesso de pessoas é restrito. A mata ciliar permanece preservada e a água que brota da terra é cristalina, a vegetação bem verdinha, detalhes que tornam a paisagem ainda mais bonita.
A nascente tem cerca de cinco metros de profundidade e o nível está baixo por conta da falta de chuvas. A água é limpa e pura. De lá, a água segue num canal bem estreito e raso, onde peixes podem ser vistos. Cena que há pelo menos um mês não se poderia presenciar. Sobre a ponte, o sitiante Valdemar Matiolli observa uma cena que o entristece e traz preocupação. "A lembrança é doida. Quem conhecia antigamente, andava pela margem do rio, via os peixes e vê hoje, fica triste. Vai fazer o que? Quem pode fazer alguma coisa? Só se for as autoridades", reclama Matiolli.
Milhares de peixes morreram (Foto: Marcos Lavezo / G1)Milhares de peixes morreram no rio após melaço
atingir água (Foto: Marcos Lavezo / G1)
No mês passado, um incêndio atingiu um galpão de armazenamento de açúcar, em Santa Adélia. 30 mil toneladas do produto foram consumidas pelo fogo. Parte do melaço caiu no rio, poluiu a água e matou toneladas de peixes. A situação só começou a melhorar dias depois, com a chegada da chuva. Segundo ambientalistas, a tendência é que o rio volte a ser como antes. O problema, é que existem outros tipos de poluição que nem o tempo, muito menos a ajuda da natureza, conseguiram solucionar.
Trecho de Catanduva
Na cidade, a água está escura por causa do esgoto lançado diretamente no rio. Isso acontece desde que o município foi fundado, há quase 100 anos. Das seis cidades, por onde o rio passa, Catanduva é a única que faz descarte diretamente no São Domingos. Em um dos trechos, o contraste entre a água que ainda não foi poluída e a que já está contaminada pelo esgoto é visível. Do outro lado, existe uma tubulação que faz o lançamento de resíduos no rio. A partir dali, a água fica escura e o cheiro é insuportável. Para o fiscal da Cetesb, Paulo José de Figueiredo, o impacto ambiental é de grandes dimensões. "Nós temos um trecho de 45 quilômetros totalmente impactado, com núivel oxigênio 0%. Toda vez que é lançado, o esgoto entra em decomposição e além do cheiro e dos problemas na água, também pode trazer problemas de saúde aos moradores", comentou Figueiredo.
Esgoto jogado diretamente no rio polui águas (Foto: Reprodução / TV Tem)Esgoto jogado diretamente no rio polui águas (Foto: Reprodução / TV Tem)
Catanduva possui 110 mil moradores. A estimativa da Cetesb é de que por dia, cada pessoa seja responsável por cerca de 160 litros de resíduos. Ou seja, diariamente são lançados no rio, 17 milhões de litros de esgoto. "Pesquei muito em frente a minha casa. Hoje olho e vejo água preta. Não sei se vou vê-lo despoluido para poder brincar no local novamente, com meus netos e família", reclama o morador Joaquim Donizete Cabrera.
No museu da cidade, recortes de jornais e fotos das décadas de 50, 60 que já mostravam a revolta da população com o descarte irregular do esgoto. A imagem mais antiga é de 1939 e mostra outra realidade, quando o São Domingos servia como ponto de lazer para crianças.
O ambientalista Davis Gláucio Quinelato há 17 anos luta pela despoluição do rio e já organizou abaixo-assinado, protestos, mas até o momento não conseguiu o que mais desejava. "Até então, a obra não está pronta. É lamentável. Todos os dias são lançados esgotos e precisamos de uma agilidade maior para mais cuidado com a população e com o meio ambiente", comenta Quinelato.
Segundo a Secretaria de Meio Ambiente, a inauguração das lagoas de tratamento está prevista para abril de 2014. A obra, que começou em 2009, está orçada em R$ 37 milhões e segue a passos lentos. A promessa é que o sistema trate 100% do esgoto coletado no município. "Nós temos hoje a parte de construção civil, praticamente pronta. Mas temos os equipamentos que estão chegando para finalizar a obra. Estamso cumprindo o cronomgrama, isso é tudo muito seguro e estamos ansiosos, enquanto gestão pública, fazer com que isso comece a funcionar e que o cenário comece a mudar", explica a secretária Kátia Penteado.
Enquanto isso, os moradores precisam conviver com a triste realidade de que, no meio da cidade, o rio corre sujo e poluído e muita gente já perdeu a esperança de ver São Domingos limpo e cheio de vida.
O rio ainda corta mais três cidades, Catiguá, Tabapuã e Uchoa, onde são 45 km de extensão. O percurso é longo, mas quando a água chega já está poluída por causa do esgoto. O pior é que a contaminação vai chegar até o rio Turvo, que se encontra com o São Domingos e causa conseqüências ao meio ambiente. Exemplo de como a ausência de planejamento e falta de consciência ambiental podem prejudicar o meio ambiente, uma mancha no meio do rio que simboliza o quanto a sociedade ainda precisa evoluir para que a natureza não continue destruída.
Fontecbnfoz.com.br

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